1 Introdução
2 Na França: Berço do Simbolismo
Desprezando a ciência e a técnica como componentes desse mundo burguês, surge, na França, a estética simbolista, valorizando a intuição pessoal e a liberdade imaginativa como forma de conhecimento. É a reação à impassibilidade e à rigidez das fórmulas parnasianas e, secundariamente, à crueza do romance naturalista. No plano social e filosófico, constitui uma réplica ao positivismo científico-mecanicista e ao realismo, objetivo que dominou a segunda metade do século XIX. Também foi chamado Simbolismo o movimento surgido à mesma época na pintura, como reação ao impressionismo e ao naturalismo.
O momento precursor da nova estética literária foi com a publicação de As flores do mal, livro do poeta francês Charles Baudelaire, em 1857. Sua influência foi de fundamental importância pela transformação da vida na grande cidade em tema literário e pelo rompimento dos limites morais impostos aos artistas. Coube a Baudelaire a divulgação de uma mensagem que desvendava as angústias do homem desacreditado dos deuses e mitos, o que resultava em um comportamento movido por impulsos de uma trágica liberdade e pelo individualismo.
Ao lado de Baudelaire estão Arthur Rimbaud, Paul Verlaine e Stephane Mallarmé, paradigmas do Simbolismo. A partir desses poetas, a poesia ocidental vive em que a objetividade dos realistas, a impassibilidade e o tom escultural dos parnasianos cedem ligar à evocação sugestiva e musical. Em lugar da exatidão, o vago. A palavra sofre um esvaziamento de seu conteúdo, valendo pela sugestão verbal. Essa experiência é anterior ao próprio Baudelaire: a queda da correspondência com o natural, na poesia, começa com Edgar Allan Poe, como se pode observar no seu conhecido poema “O corvo”.
O núcleo do Simbolismo francês residiu, sem dúvida, na obra de Stephane Mallarmé, consumado artista do verso, cujas potencialidades rítmicas e musicais explorou a exaustão. Deu início também ao hermetismo, a poesia pura da chamada “torre de marfim”, em torno da qual se reuniam os evasionistas e os experimentalistas do verso e verbo.
O símbolo para esta nova arte poética, o Simbolismo, desprende-se de qualquer carga lógica. Uma das singularidades desta poesia seria sua conexão com a música, justamente porque ela concentra a capacidade de sugerir as mais variadas emoções. Criou-se, portanto, uma língua-música que consistiria na harmonização dessas duas formas de arte.
As manifestações dos poetas contrários ao Realismo-Naturalismo e ao Parnasianismo foram denominadas “decadismo” ou “decadentismo”. Esse nome traduz claramente a noção básica que os orientava: a de que a civilização burguesa chegara a tal ponto de decadência, de dissolução moral e espiritual, que a vida se transformara num grande mal-estar, suportável apenas pelos gozos sensuais e pela fruição dos prazeres mais forte. “A sociedade se desagrega sob ação corrosiva de uma civilização deliqüescente. O homem moderno é um insensível.” – afirma o Manifesto decadente.
2.1 O significado e definição de Símbolo
3 O Simbolismo em Portugal (1890-1915)
Em Portugal registrou-se pelo menos um grande momento de crise econômica nos anos de 90 e 91, assinalado pelo descrédito do povo em relação à Monarquia. È nessa conjuntura que surge o grupo de escritores conhecido como “Os Vencidos da Vida”, denominação reveladora do espírito depressivo que se viveu na época. Desse grupo de curta duração, faziam parte escritores realistas, como Eça de Queirós e Guerra Junqueiro.
Este período apresenta algumas particularidades. Além da poesia ligada às características gerais do movimento, há correntes voltadas para as tradições históricas e culturais do país, responsável por um forte sentido nacionalista, concentrado, principalmente, no repúdio à Inglaterra e na valorização do passado navegador e imperial português. Daí a Literatura adotar formas e temas tradicionais:
O NEOGARRETISMO pregava a retomada da orientação poética de Almeida Garrett, com a valorização da tradição poética popular e a coloquialização da linguagem poética;
O SAUDOSISMO procurava definir o caráter nacional do homem português tomando como sua essência o sentimento da saudade.
3.1 Principais representantes do Simbolismo em Portugal
Eugênio de Castro e Almeida
Antonio Nobre
3.1.1 Eugênio de Castro
Para a estética simbolista, a importância de Eugênio reside na polêmica que causou ao publicar “Oaristos”, obra que inaugurou o Simbolismo português. O escândalo causado pela audácia formal desse livro permitiu a divulgação da nova estética e a consagração de seu autor como o principal difusor do movimento em Portugal.
O texto, a seguir, é parte de um longo poema extraído do livro que deu início ao Simbolismo português, “Oaristos”.
Um sonho
Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...
O Sol, o celestial girassol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...
As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...
Flor! enquanto na messe estremece a quermesse
E o Sol, o celestial girassol, esmorece,
Deixemos estes sons tam serenos e amenos,
Fujamos, Flor ! à flor destes floridos fenos...
Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...
3.1.2 Antônio Nobre
Apresenta em sua poesia a memória como forma de escape ou fuga de um presente de infelicidade e inadaptação. Linguagem coloquial e musicalidade obtidas, principalmente, pela exploração de recursos presentes na poesia popular são as características formais mais evidentes de Nobre, que em sua ida para a França sofreu influência do Simbolismo transportando para suas obras, sob a inspiração de Paul Verlaine. Publicou em vida o volume “Só” (1892), motivo de sua celebridade, postumamente surgiram Despedidas e Primeiros Versos, além de vários volumes de Correspondência.
Menino e moço
Tombou da haste a flor da minha infância alada.
Murchou na jarra de oiro o púdico jasmim:
Voou aos altos Céus a pomba enamorada
Que dantes estendia as asas sobre mim.
Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada,
E que era sempre dia, e nunca tinha fim
Essa visão de luar que vivia encantada,
Num castelo com torres de marfim !
Mas, hoje, as pombas de oiro, as aves da minha infância,
Que me enchiam de Lua o coração, outrora,
Partiram e no Céu evolam-se, a distância !
Debalde clamo e choro, erguendo aos céus meus ais:
Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,
Elas, porém, Senhor ! elas não voltam mais...
(Só, Antonio Nobre)
4 O Simbolismo no Brasil (1893)
Foi um movimento que quase passou despercebido, pois foi sufocado pelo Parnasianismo que ainda vigorava com muito prestígio. Em se tratando da relação Parnasianismo x Simbolismo, nota-se que um estilo é a negação do outro porque ambos são resultados de visões de mundo antagônicas, contraditórias. Enquanto o simbolista mergulha no seu mundo interior, buscando sua essência, o parnasianismo irá voltar-se unicamente para o exterior, ou melhor, para a descrição desse mundo exterior, o que nem sempre logra conseguir, acabando, em alguns casos, por trair seu próprio receituário.
4.1 Características do Simbolismo
A poesia simbolista irá se voltar para o interior, buscando, através de uma linguagem enigmática, colorida e vibrante, sugerir simbolicamente as angústias do homem. Pelo seu aspecto enigmático, místico (até religioso) não estará preocupada com a descrição do mundo e sim com a sugestão de realidades (materiais ou abstratas) que compõem esse mundo. Para o simbolista a ciência não é tão determinante assim, dada a sua impotência ante as coisas materiais que estão além dos olhos. É uma poesia que não está preocupada em ser vista, mas em ser sentida. Para tanto, os poetas simbolistas irão valer-se dos símbolos (assim como os parnasianos se valeram da forma) para conseguir esse efeito em seus interlocutores, símbolos que representem coisas, seres, sensações, idéias e até filosofias. Irão valer-se também da linguagem para ampliar seus meios de sintonia com o leitor. É comum que seus versos sejam vibrantes, musicalizados, valorizando o aspecto rítmico e a riqueza proporcionada pela pontuação.
A musicalidade, traço de destaque na poesia simbolista, é um efeito criado a partir do uso das figuras de som ou de harmonia. No texto elas produzem efeitos de ritmo, cadência, constituindo o “fundo orquestral” de todo poema. O Simbolismo adotou a metáfora como uma importante estratégia da linguagem para se alcançar o insondável, o nebuloso, o místico. Ela é concebida como a célula germinal da poesia e responsável pela riqueza das imagens de um poema simbolista.
4.1.2 Principais características do Simbolismo – Em resumo
Sugestão
Musicalidade
Sinestesia
Aliteração e assonância
Misticismo
Nebulosidade
Hermetismo
Conhecimento ilógico e intuitivo
Sonho, fantasia
Busca da essência
Subjetivismo
Cromatismo (valorização das cores)
4.2 Principais representantes do Simbolismo no Brasil
Cruz e Sousa
Alphonsus de Guimaraens
4.2.1 Cruz e Sousa
Depois de um curto período no Rio Grande do Sul, chegou ao Rio de Janeiro, onde se fixaria para sempre. Foi lá que começou no jornalismo e na vida literária. Conheceu Gavita, com quem se casaria. A mulher enlouqueceu em 1896, sendo cuidada pelo próprio poeta, em casa. Vários poemas de Cruz e Sousa tematizam a loucura.
Quando morreu, de tuberculose, tinha 37 anos (1898) e era funcionário da estrada de ferro Central do Brasil.
A obra de Cruz e Sousa, afora alguns inéditos de importância mínima, se compreendia nos seguintes volumes: “Missal” e “Broqueis”, publicados em 1893, únicos livros aparecidos ainda em vida do poeta; depois de sua morte, por diligência de amigos, principalmente de Nestor Victor, vieram a lume: “Evocações”, prosa, em 1898; “Faróis”, poemas, em 1900; “Últimos sonetos”, em 1905.
O poema Antífona é o que abre o livro “Broqueis” e equivale a uma “profissão-de-fé”, a um manifesto da estética simbolista. Quase todas as características do Simbolismo estão presentes nele:
Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
de luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
e dolências de lírios e de rosas...
Indefiníveis músicas supremas,
harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
inefáveis, edênicos, aéreos,
fecundai o Mistério destes versos
com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
que fujam, que na Estrofe se levantem
e as emoções, todas as castidades
da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
de carnes de mulher, delicadeza...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões álacres,
desejos, vibrações, ânsias, alentos,
fulvas vitórias, triunfamentos acres,
os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
de amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
em sangue, aberta, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
nos turbilhões quiméricos do Sonho,
passe, cantando, ante o perfil medonho
e o tropel cabalístico da Morte...
Siderações
Para as Estrelas de cristais gelados
as ânsias e os desejos vão subindo,
galgando azuis e siderais noivados,
de nuvens brancas e amplidão vestindo...
Num cortejo de cânticos alados
os arcanjos, as cítaras ferindo,
passam, das vestes nos troféus prateados,
as asas de ouro finamente abrindo...
Dos etéreos turíbulos de neve
claro incenso aromal, límpido e leve,
ondas nevoentas de Visões levanta...
E as ânsias e os desejos infinitos
vão com os arcanjos formulando ritos
de Eternidades que nos Astros canta...
Acrobata da dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço...
e embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
4.2.2 Alphonsus de Guimaraens
Veio para São Paulo, onde iniciou o curso de Direito que concluiria em Minas. Em 1906 foi nomeado juiz na cidade de Mariana (MG). Lá casou, teve quinze filhos, e permaneceu até sua morte, em 1921.
A obra de Alphonsus de Guimaraens recupera muitos temas característicos do Romantismo, como o amor espiritualizado, a evasão, a religiosidade e a morte. Amor e morte, em resumo, são os dois pólos de sua preocupação como escritor. em sua poesia não há, como na de Cruz e Sousa, lugar para o erotismo – a mulher é divinizada, comparada à Virgem Maria.
A morte da noiva é um motivo recorrente em sua poesia como no fragmento:
XXIV
“Mortos os beijos nossos
Como eu me sinto só...
Ah! cobre a cinza fria dos teus ossos
Um chão de cinza e pó.
Anjo da minha guarda,
De novo ao mundo vem!
que céu tão triste, de uma cor tão parda...
É cinza e pó também.”
Dona Mística, Alphonsus de Guimaraens
Lirismo Místico:
VII
Primeira Dor
Em teu louvor, Senhora, estes meus versos,
e a minha Alma aos teus pés para cantar-te.
E os meus olhos mortais, em dor imersos,
Para seguir-te o vulto em toda a parte.
Tu que habitas os brancos universos,
Envolve-me de luz para adorar-te,
Pois evitando os corações perversos
Todo o meu ser para o teu seio parte.
Que é necessário para que eu resuma
As Sete Dores dos teus olhos calmos?
Fé, Esperança, Caridade, em suma.
Que chegue em breve o passo derradeiro:
Oh! dá-me para o corpo os Sete Palmos,
Para a Alma, que não morre, o Céu inteiro!
Setenário das Dores de Nossa Senhora, Alphonsus de Guimaraens
Poesia Noturna:
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
5 Considerações finais
Em síntese, o poeta simbolista caracteriza-se pela concepção mística do mundo; pelo interesse no particular e no individual, em ligar do geral que interessava aos realistas e parnasianos; pelo escapismo em que se aliena da sociedade contemporânea; pelo conhecimento ilógico e intuitivo; pela valorização da arte pela arte; pela utilização de via associativa.
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*Graduandos do Curso de Letras na Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança
Referências Bibliográficas
INFANTE, Ulisses. Curso de literatura de língua portuguesa: volume único: Scipione, 2001.
NICOLA, José de. Língua, literatura e redação: vol.2. São Paulo: Scipione, 1993.
ORNELA, Paulo. “Literatura Brasileira” In: Caderno de atividades – Sistema de Ensino Universo: Belém, 2003.
Sistema de Ensino Positivo. Língua Portuguesa / Literatura: Ensino Médio. Curitiba: COPYRIGHT 2001.
Fontes Eletrônicas
http://faroldasletras.no.sapo.pt/simbolismo.htm
http://orbita.starmedia.com/~stargate2/simboli.htm
http://www.artesbr.hpg.ig.com.br/Educacao/11/interna_hpg9.html
robsonh_melo@yahoo.com.br